Houve um tempo em minha vida
Que tudo era carência e decepção
Em que ganhar presente em brinquedo
Era algo sem solução
Nem em natais nem em aniversários
Nem em qualquer outra ocasião
Pois o pouco que se ganhava
Mal dava para a alimentação.
Mas apesar do que faltava
A vida era boa de levar
Pois quando se queria um brinquedo
Nos juntávamos para inventar
E brincadeiras muitas e saudáveis
Eram feitas no quintal e no pomar
E quando a noite chegava trazia a lua,
Para outras brincadeiras iluminar
Brincávamos de pique esconde
Mocinho e bandido e de rodar
Cavalo-de-pau, bola de gude
Bola de meia e de escorregar
Brincávamos de cabra-cega
De três Marias e de balançar
E quando não tínhamos mais idéias
Íamos pro rio limpinho nadar
Nós tínhamos à nossa disposição
A rua, o rio e a calçada
Muitas árvores campos belos
Cavalos, a praça e a enxurrada
Havia ainda pro divertimento
Correr pelo pasto em disparada
Tudo o que precisa uma criança
Para ser livre e bem criada
Daquele tempo me lembro
Dos momentos de felicidades
Do vento batendo no rosto
Da mais pura liberdade
Dos deliciosos banhos de chuva
De respirar com qualidade
Das noites fresquinhas e límpidas
Que até hoje tenho saudade