26 de fev. de 2011

LIBERDADE DE PÉS DESCALÇOS

Houve um tempo em minha vida
Que tudo era carência e decepção
Em que ganhar presente em brinquedo
Era algo sem solução
Nem em natais nem em aniversários
Nem em qualquer outra ocasião
Pois o pouco que se ganhava
Mal dava para a alimentação.

Mas apesar do que faltava
A vida era boa de levar
Pois quando se queria um brinquedo
Nos juntávamos para inventar
E brincadeiras muitas e saudáveis
Eram feitas no quintal e no pomar
E quando a noite chegava trazia a lua,
Para outras brincadeiras iluminar

Brincávamos de pique esconde
Mocinho e bandido e de rodar
Cavalo-de-pau, bola de gude
Bola de meia e de escorregar
Brincávamos de cabra-cega
De três Marias e de balançar
E quando não tínhamos mais idéias
Íamos pro rio limpinho nadar

Nós tínhamos à nossa disposição
A rua, o rio e a calçada
Muitas árvores campos belos
Cavalos, a praça e a enxurrada
Havia ainda pro divertimento
Correr pelo pasto em disparada
Tudo o que precisa uma criança
Para ser livre e bem criada

Daquele tempo me lembro
Dos momentos de felicidades
Do vento batendo no rosto
Da mais pura liberdade
Dos deliciosos banhos de chuva
De respirar com qualidade
Das noites fresquinhas e límpidas
Que até hoje tenho saudade

7 de nov. de 2010

NOTÍCIA RUIM

Todos os dias eu abria a porta e rosa me recebia com uma alegria sem par. Rosa sorria, se balançava e me dava a face para beijar.
Sempre que olhava e falava com rosa, meu dia rendia, meu trabalho fluía a vida seguia sem nada a reclamar.
Nesse dia, estava triste, acabrunhado, vi pela televisão uma notícia triste, entristeci. “O mundo está realmente mudado, perdido, difícil de aguentar!”
Demorei para sair. O atraso se fez presente pela primeira vez após anos de trabalho.
Não achava as botas, a luz apagou, o chuveiro não funcionou.
Me enrolei com os lençóis. A TV que me dera a notícia triste de repente escureceu.
Meu coração ficou apagado, parecia paralisado, nada, nada mesmo funcionava.
Fiquei sufocado com tudo apagado e uma tristeza imensa que só aumentava naquele silêncio mórbido de um atraso inédito, doído, nunca antes vivido quase me punha a chorar.
Quando a luz acendeu, a TV voltou a falar, tocava ao fundo uma música triste, funesta, enquanto uma voz mansa anunciava uma partida de não sei quem para não sei onde.
Achei as botas, o banho esquentou, a sala clareou numa claridade fria, decadente.
Me arrumei, tomei o café meio amargo de amargura adocicada querendo me anunciar que menos doce que a vida só a vida que eu estava a levar.
Meus ombros caídos, olhos lânguidos, empurravam-me para baixo, mais até que a gravidade.
Cheguei na porta, a chave rodopiou na fechadura num barulho seco desgostoso, recolhendo a lingueta que saía sem querer sair. Ouvi um rangido na dobradiça da porta que nunca antes ouvi. Era como um choro, um lamento que mais ainda me lançava ao chão e molhava meu coração.
Ainda cabisbaixo, saí, virei peguei “desanime” na maçaneta, puxei, novamente ouvi a lingueta da fechadura reclamar do movimento e ao mesmo tempo à porta fechar para proteger o meu forte, meu canto e doce abrigo.
Novamente virei, olhei para o céu cinzento, respirei aquele ar gelado sem brilho, sem cheiro, sem sorriso, sem bom dia, sem face, sem beijo, sem rosa...
Entendi: “A primavera acabou!”

Autora: Rita Marques
Data de criação: 17/08/2010

SIMPLES VIVENTE

Eu não sou nenhum poeta
Para lançar palavras ao vento
Encantar os corações
E mexer com o sentimento

Eu não sou nenhum cantor
Para levar mensagem de paz
Envolvida em melodia
Para alegrar os demais

Eu não tenho o poder
Para melhorar a vida
De milhões de criançinhas
Que o malvado mundo escraviza

Eu não posso fazer leis
Que melhore o sonho do pobre
Que lhes dêem mais alento
Quando o manto da noite lhes cobre

Eu sou apenas eu
Um humilde e simples vivente
Que carrega no peito um sonho
De ver o MUNDO diferente.

O TEMPO

Olho a vida que passa,
Fervilhando em movimento
Como tudo acontece rápido
Rápida é a passagem do tempo.

O tempo me trouxe aqui
E fechou as portas pra mim
Hoje espero eu no tempo
O tempo melhor que há de vir.

Se frio sinto as dores na carne
Se quente sinta a carne ferver.
Se neblina o cabelo embranquece,
Se chover, me sinto derreter.

Conspiram-se tempos findos
Meu tempo não irá retroceder,
E eu sento aqui e espero.
O que é que vai acontecer.

Viver às margens de um lar
É sentir-se cada dia a morrer.
É mergulhar num pesadelo,
Querendo acordar sem poder.

Sentada à beira da calçada
Meu corpo estremece de frio
Meu coração transtornado de dores
Sucumbe ao mal sombrio.

E o tempo que passou
Um dia me deixou aqui
E aqui espero eu no tempo
Um tempo melhor que há de vir...

HOMEM X NATUREZA

Não mata a mata que te mata a fome homem...
Não mata o ar que te faz respirar se não tu some!

Planta a planta que te implanta vida
E te garanta certo o esplendor da vida.

Não dê o corte que te corta ao meio te condena a alma a viver de anseio
Buscando saídas, corrigindo a vida, reparando erros.

Não perde o plano de planar na vida
passeando imune
Sem cuspir ingrato no prato em que consome

Respeita o plano de passar na vida
Realizando sonhos construindo vidas

Reforma fundo no teu consciente
Acertando os pontos da tua essência.

Se deixe chorar de alegria, nunca sorrir de agonia,
E poder viver plenamente a tua existência.

26 de set. de 2010

O MENINO

Um dia, vi um menino chorando
Não parava de chorar
Não chorava por tristeza
Mas, porque queria cantar

Esse menino que dormia no chão
A voz dele era bonita
E cantava com emoção

Um dia eu o vi
E lhe dei um instrumento
Ele tinha intimidade
E tocava com talento

Esse dito menino
gostava mesmo de cantar
Mas o que eu não entendia
É que ele não parava de chorar

Ele chorava bastante
E não gostava de chorar
Mas quando ele cantava
Fazia o mundo se alegrar!

Autor: Matheus Martins – 10 anos

19 de set. de 2010

A CALÇADA...


Não existe filosofia
Em nenhuma calçada fria
Não há filosofia onde
Há lágrima, tristeza e dor
Onde reina necessidade correria e rancor
Onde existe constante e infame
A fome, o vício e o horror


Não existe filosofia
Onde há falta de amor
Descaso, desprezo, crueldade e terror
Preconceito é o que vejo incrustado
Em toda calçada fria
Que dispensa a quem a cultua
Apenas a noite depois de um dia
A calçada vicia
Apesar da constante agonia
É o vício da suposta liberdade
E liberdade viciada
É liberdade falsificada
Como os “made in Paraguai”

Não há liberdade nem filosofia
Em nenhuma calçada fria
A liberdade ilusoriamente envolve
Por que oferece
Quartos sem portas
Playground sem passaporte
Banheiro sem porta e sem box
Parque aquático sem grades
Suficientemente fortes



A ilusão é temporária
A liberdade é temporária
A vida é temporária
Quando se é imposto ao se viver
Viver na calçada fria
Que não tem filosofia
Que só tem a noite
Depois de um sofrido dia

Rita Marques

QUERO SER O QUE ERA TEU!

Sinto tristeza ao olhar o olho fiel
Que chora por um pouco de mim

Sinto o coração apertar ao ouvir
Os batuques de um coração que vibra pelo meu

Tenho dó de mim que não deixo
Livre o sentimento que pode fazer alguém feliz

Quero olhar-te com olho santo
Como quem olha pra Deus

Quero desejar o que vejo
Quero dar-te o que já me deu

Eu quero sentir o gosto doce
Do teu nome em minha boca

Eu quero, quero muito
Dizer... Sou teu!!!

RUBOR

És mina de puro verso
Dos sonhos que já sonhei
Tu trazes nos olhos um brilho
Num tom que já desejei
Deixa que eu seja o teu sonho
Finja que te enamorei

Veludo das rosas rubras
Que trazes na fina face
Desmonta minhas barreiras
E ao meu corpo enlace
Queria arrancar-lhe um beijo
Antes que a tumba me cace

Pousa sobre o véu brilhante
Olhos compridos a te ver
Nas frestas da tua janela
Só queria olhar você
Joguei meu encanto insólito
Recebi um olhar de clichê

30 de mai. de 2010

GARIMPEIRO DA PAZ

Toda desgraça do mundo,
É o próprio homem quem faz
E não percebe triste e insano
Que o ouro e a riqueza do mundo
Estão num punhado de paz

16 de mai. de 2010

EU E MAIS

Não dou de mim pro que não sinto
Não sinto em mim a ilusão
Sou parte daquilo que vivo
E vivo sempre de pés no chão

Quero do céu a minha estrela
Quero da terra o meu sustento
Quero do mar andar na beira
Quero do homem um bom alento

Sou firme e decidida
Amo a autenticidade
Sou exigente para viver
Odeio a mediocridade

Tenho a mente trabalhadeira
Transformo letras em embrião
Tenho a alma de cantadeira
Querendo fazer canção.

MOTIVOS

Me dê motivos pra te amar
Seja para mim um companheiro
Brejeiro
Fagueiro
Maneiro
Cheio de amor pra dar...

Me dê motivos pra te amar
Me dá sem motivo uma flor
Calor
Ardor
Amor
Cheio de carinho sem par...

Me dê motivos pra te amar
Chegando sempre sorrindo
Por onda passas florindo
Sem medo de me encontrar

Me dê motivos pra te amar
Me leva pra cama mais cedo
Rasga-me a seda sem medo
Me põe na brasa sem queimar

Me dê um bom motivo para te amar
Olha pra mim e me veja
Em minh'alma o desejo despeja
E deixa que eu saberei te agradar

Eu quero gostar de te amar
Poder te olhar e dizer te amo...
Sem medo
Sem gelo
Sem rodeio
De coração aberto, querendo apenas te amar...

15 de mai. de 2010

Não sou uma cor...

Você que olha para alguém
Sempre achando que ele tem
A mente e o coração na cor,
Você se enganou
A bondade e a honestidade
O caráter e a descência
A malícia ou a inoscência
Independe, transcende
O corpo e a cor em questão
Você pode procurar
E com certeza vai encontrar
Onde é que sempre está
A maldade que queres detectar
Não é a cor que determina
Se um ser é condenável ou contamina
Com o veneno que sai do coração
É o sentimento que está além da visão
(...)
Olhe para mim e me veja como sou
Independente da minha cor
Sou alguém que tem
Cabeça, tronco, membros e coração
E não é seu preconceito
Que me fará ser um defeito
Defeito que acreditas
Estar na minha COR...
Rita Marques
Data de criação: 06/06/2001

18 de abr. de 2010

HOMO...

Esse ser é eclético,
Complexo,
Formado de corpo
Coração e mente
Que sente, que mente
Que entende, que ofende
Que faz e desfaz comumente.
Esse ser é físico biológico,
Social, cultural
Racional, irracional;
Racial, moral, imoral e amoral.
É moralista, culturista, cientista
Esse ser é um artista
Do balé da vida.
Esse ser não é simples
É composto, universal;
É molécula viva, pulsante,
Gritante,
Que espalha emoção,
Colhe desilusão
E não se entrega
Carrega sobre a cabeça
O peso do mundo num grão.
Esse ser é arte,
É fé, é paixão
Esse ser é assim...
É carne, é espírito;
É um todo numa parte
É uma parte no todo.
Um complexo no simples
Um simples na imensidão.
Esse ser sou eu,
Esse ser é você;
Ou somos nós
Formando a multidão.

FALANDO EM LIBERDADE

A liberdade não se pede
Não se compra,
Não se doa,
Não se inventa,
Não se impõe.
A liberdade se constroi
E se constroi a liberdade
Com a busca de conhecimento
Do conhecimento do mundo
E de si mesmo
Do conhecimento
Construtor de consciência
De uma consciência libertadora
Desatadora dos nós
Dos nós do senso comum
Da mediocridade
Da ignorância
E do preconceito
Ter liberdade é antes de tudo
Ter poder de escolha
E escolha pelo melhor viver
Independente das grades
Da feiúra
Da doença
E da imperfeção
Das grades da prisão
Da riqueza ou da pobreza
A liberdade é um estado de espírito
Que independe de amarras,
Que transcende a imperfeição
"A liberdade não é física,
Geográfica e nem se mede
A liberdade está na felicidade da gente"